sábado, 12 de fevereiro de 2011

DIÁLOGOS


O casal vivia às turras, brigas homéricas, sarcasmos, ironias recíprocas...
Houve o que chamaríamos ruptura da relação, naquela fase em que até o olhar incomoda.
Esse é o aspecto curioso da vida conjugal.
No período áureo, de envolvimento passional, os pombinhos se entendem pelos olhos. Parecem ler o pensamento um do outro.
Com o desgaste da relação, olhar dá choque.
-O que foi? Nunca viu?!
É o fim do casamento.
Um casal chegou a esse extremo.
Não obstante, ambos consideraram a inconveniência da separação. Tinham cinco filhos. Nenhum dos dois admitia viver sem eles.
E havia a questão financeira. Dividida a família seriam duas casas para manter, despesas dobradas, nível de conforto prejudicado.
Assim, decidiram continuar sob o mesmo teto, mas...sem papo!
Situação embaraçosa!
Há na vida conjugal a necessidade fundamental de comunicação, até por questões práticas, envolvendo a economia doméstica.
O jeito foi ter os filhos como intermediários, gerando memoráveis "diálogos".

Ela:
- Diga a seu pai que acabou o arroz.
Ele:
- Diga a sua mãe que está gastando demais.
Ela:
- Diga a seu pai que vá para cozinha.
Ele:
- Diga a sua mãe que vá para o diabo que a carregue!
Ela:
- Diga a seu pai que nõ preciso. Moro com ele!

Pior aconteceu quando os filhos saíram de casa. Alguns se casaram, outros foram trabalhar fora.
Já idosos e acomodados, sem coragem para encarar uma separação, passaram a se comunicar através de bilhetes, com recados sintéticos e malcriados:
- Diabo, acabou o arroz!...
***
De Richard Simonetti no livro Abaixo a Depressão!

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